Nas últimas duas décadas, o Brasil viu o número de pessoas com doença renal crônica triplicar.
Hoje quase 150 mil cidadãos fazem diálise no país e estima-se que pelo menos 25 mil deles morram por ano em decorrência da doença. As alarmantes estatísticas brasileiras não destoam do resto do mundo. Calcula-se que 850 milhões de pessoas em todo o planeta são acometidas de algum comprometimento renal — são 2,4 milhões de óbitos por ano, o que coloca a doença renal como a 11ª causa de morte global.
Como a prevalência da doença renal está aumentando drasticamente, o custo de tratamento dessa epidemia crescente representa enorme carga nos sistemas de saúde de todo o mundo. Na Inglaterra, o valor desembolsado no tratamento da condição já supera o custo dos cânceres de mama, pulmão, cólon e pele juntos. Na Austrália, o custo de tratar todos os casos atuais e novos está estimado em 12 bilhões de dólares. Nos Estados Unidos, por sua vez, a despesa com o tratamento deve exceder 48 bilhões de dólares por ano.
Os nefrologistas alertam que a melhor estratégia para redução de custos e danos aos pacientes é a prevenção. Os países precisam investir mais nesse aspecto e tornar o rastreio de doenças renais um cuidado primário com a saúde, incluindo acesso a exames de sangue (creatinina) e urina (EAS). O diagnóstico e o tratamento precoces podem evitar ou retardar que as doenças renais evoluam para estágios mais graves, que necessitam de diálise ou transplante.
“Falamos de uma doença que, a rigor, não tem cura, o que faz que os pacientes necessitem de cuidados pela vida toda. Embora a qualidade do tratamento tenha avançado muito nos últimos anos, uma diálise individualizada e de qualidade ainda não é acessível a todos aqueles que precisam, assim como nem todos conseguem usufruir de um transplante de rim”, destaca o médico nefrologista e diretor da ABCDT, André Pimentel.
Há um ano a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) incorporou ao seu rol de procedimentos obrigatórios de cobertura de planos de saúde a hemodiafiltração online de alto volume. Estudos internacionais e nacionais já comprovaram que esta é a terapia que mais se aproxima do funcionamento de um rim saudável.
O número de pacientes com acesso ao tratamento inovador dobrou em um ano. A hemodiafiltração online de alto volume passou a ser utilizada por cerca de 4.100 pessoas no Brasil; antes da decisão da ANS, eram 1.796. São inúmeros os relatos de aumento de bem-estar e disposição no dia a dia por pacientes que experimentaram a terapia. É o caso de Ednaldo Silva, que faz hemodiálise há seis anos e há um ano iniciou o tratamento de hemodiafiltração: “Saio melhor, passo bem em casa, não sinto mais dor no corpo, não tenho câimbra. É uma melhora muito grande na vida da gente”.
Mas é importante fazer a conta. Hoje, menos de 3% dos pacientes renais brasileiros têm acesso à melhor terapia disponível. A desigualdade econômica e social do país também se reflete na diálise. Enquanto há países como o Reino Unido, que recomendam a hemodiafiltração como terapia renal preferencial, ou a Europa que atende mais de cem mil pacientes nessa modalidade, o Brasil ainda nega a seus pacientes do Sistema Único de Saúde o acesso à inovação, tecnologia e bem-estar. Há o Brasil da tecnologia e inovação em diálise (3%) e o que lida com a mais grave crise do setor (90%).
No país, 90% dos pacientes renais que fazem diálise tratam em clínicas privadas conveniadas ao SUS. A defasagem do que o Governo Federal paga para o tratamento e o quanto ele efetivamente custa às clínicas está em mais de 32,7%. Se a conta não fecha, as clínicas fecham. Levantamento feito pela ABCDT apontou quase 40 clínicas de diálise que encerraram as atividades. Outras tantas deixaram de atender pacientes do SUS.
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